Preparando minha aula de hoje encontrei este artigo muito interessante e muito sério! Nossas crianças precisam de música nas escolas, eu digo MÚSICA, não “funk, “pagode” e outras coisas afins. Nos testes de seleção para a Escola de Música de São Paulo ou Escola Municipal de Música vimos muitos bons candidatos oriundos do Projeto Guri. Foi uma gratíssima satisfação ouvir tantos bons talentos.
Leiam e reflitam
Mais do que em qualquer outra área, o conceito de talento é amplamente utilizado no domínio do canto, sendo frequentemente evocado como critério de selecção e avaliação. É especialmente utilizado como factor discriminatório aquando da determinação de quem deve receber instrução ou como justificação para o insucesso. Assim, é importante examinar a validade deste conceito, compreender a sua verdadeira dimensão.
Howe et al. (1998) afirmam não haver uma base sólida que corrobore a teoria do talento e salientam a importância da prática e a sua forte correlação com a aquisição de um elevado nível de performance. Estes autores, bem como Hallam e Prince (2003) alertam ainda para o papel fulcral da motivação neste processo: “todos os jovens intérpretes, mesmo os considerados pelos seus professores como muito talentosos, precisam de ajuda e encorajamento, de forma a manter os níveis de prática necessários para alcançar a excelência”.
As experiências anteriores são consideradas por Howe e os seus colaboradores como facilitadoras da aprendizagem. Já Kodaly defendia que a educação musical se inicia no período intra-uterino. No seu artigo, Bannan (2000) demonstra como as experiências na infância são determinantes no processo do desenvolvimento vocal. Todas estas investigações sugerem que o ensino do canto se deve iniciar muito antes da maturação vocal, trabalhando aspectos expressivos, criativos, alertando para a importância dos mecanismos extra-vocais no canto, etc., e assim facilitando mais tarde todo o trabalho dependente da maturação de estruturas fisiológicas. Para além das dimensões de competência musical abordadas no estudo de Hallam e Prince (2003) é necessário sensibilizar o aluno para a importância do desenvolvimento de várias competências (não só vocais), para a multi-disciplinaridade necessária para a adequada formação de um cantor.
O modelo de desenvolvimento vocal proposto por Bannan (2000) é manifestamente interessante, na medida em que explora o canto como algo intrínseco, como um processo criativo (ou generativo) do próprio indivíduo. Mais do que a procura da adequação a objectivos estabelecidos culturalmente, o canto deve surgir como manifestação natural da capacidade humana para a música.
Hallam e Prince defendem que a competência musical é universal, tal como Bannan afirma que “o acto de cantar emprega um mecanismo físico que trabalha eficiente e eficazmente fora do controlo voluntário”, isto é, todos somos dotados de “uma capacidade genética de cantar bem” (Bannan 2000: 298). Esta investigação faz-nos reflectir sobre os actuais métodos de avaliação e ensino, voltando-nos para as teorias de Kodály, Orff ou Gordon, não só na perspectiva de que todos os indivíduos têm aptidão para a música, mas sobretudo no sentido em que deve ser dada a todos a oportunidade de ter uma educação musical completa.
Raquel Camarinha – Aluna de Canto da Universidade de Aveiro (Excerto do trabalho escrito de Didática I, Janeiro 2008)
Mais do que em qualquer outra área, o conceito de talento é amplamente utilizado no domínio do canto, sendo frequentemente evocado como critério de selecção e avaliação. É especialmente utilizado como factor discriminatório aquando da determinação de quem deve receber instrução ou como justificação para o insucesso. Assim, é importante examinar a validade deste conceito, compreender a sua verdadeira dimensão.
Howe et al. (1998) afirmam não haver uma base sólida que corrobore a teoria do talento e salientam a importância da prática e a sua forte correlação com a aquisição de um elevado nível de performance. Estes autores, bem como Hallam e Prince (2003) alertam ainda para o papel fulcral da motivação neste processo: “todos os jovens intérpretes, mesmo os considerados pelos seus professores como muito talentosos, precisam de ajuda e encorajamento, de forma a manter os níveis de prática necessários para alcançar a excelência”.
As experiências anteriores são consideradas por Howe e os seus colaboradores como facilitadoras da aprendizagem. Já Kodaly defendia que a educação musical se inicia no período intra-uterino. No seu artigo, Bannan (2000) demonstra como as experiências na infância são determinantes no processo do desenvolvimento vocal. Todas estas investigações sugerem que o ensino do canto se deve iniciar muito antes da maturação vocal, trabalhando aspectos expressivos, criativos, alertando para a importância dos mecanismos extra-vocais no canto, etc., e assim facilitando mais tarde todo o trabalho dependente da maturação de estruturas fisiológicas. Para além das dimensões de competência musical abordadas no estudo de Hallam e Prince (2003) é necessário sensibilizar o aluno para a importância do desenvolvimento de várias competências (não só vocais), para a multi-disciplinaridade necessária para a adequada formação de um cantor.
O modelo de desenvolvimento vocal proposto por Bannan (2000) é manifestamente interessante, na medida em que explora o canto como algo intrínseco, como um processo criativo (ou generativo) do próprio indivíduo. Mais do que a procura da adequação a objectivos estabelecidos culturalmente, o canto deve surgir como manifestação natural da capacidade humana para a música.
Hallam e Prince defendem que a competência musical é universal, tal como Bannan afirma que “o acto de cantar emprega um mecanismo físico que trabalha eficiente e eficazmente fora do controlo voluntário”, isto é, todos somos dotados de “uma capacidade genética de cantar bem” (Bannan 2000: 298). Esta investigação faz-nos reflectir sobre os actuais métodos de avaliação e ensino, voltando-nos para as teorias de Kodály, Orff ou Gordon, não só na perspectiva de que todos os indivíduos têm aptidão para a música, mas sobretudo no sentido em que deve ser dada a todos a oportunidade de ter uma educação musical completa.
Raquel Camarinha – Aluna de Canto da Universidade de Aveiro (Excerto do trabalho escrito de Didática I, Janeiro 2008)